quinta-feira, julho 06, 2006
Escrevo feito o vai e vem das ondas do mar, que não encontra começo, e vê fim em si mesmo. Tenho em mim o desdom de começar, uma capacidade imensa de esvaziar, e só.
O vazio anda lado a lado comigo.
Deixo minha poesia escorrer ao vento, diluir-se por nuvens tão frias e ilusórias que até minha poesia deixa de existir. Uma vez fora de mim, nunca mais minha. Minha poesia é do horizonte: Quando o crepúsculo está de um lado, ela está lá no outro - distante e fujona -, pra onde ninguém olha ao deliciar-se com o pôr-do-sol.
Enquanto isso levo o vazio, que se arrasta rasgando minha saia.
- Me dá tua mão.
Enquanto isso, o vazio chora.
Se quiser me chamar de poetisa, faça-o junto com minhas poesias, na calada da noite, longe de mim. O feminino de muitas coisas não me atrai - assim como certos sons secos -, nasci mulher pra aprender que sou poeta, e é assim que as coisas são, não insista!
E é tudo tão pálido por aqui... Como se a areia tivesse ido embora fazer as unhas dos pés, e o mar tivesse alisado os cabelos, e todas as pedrinhas que machucam os pés tivessem lixado suas pontas duras.
Apenas sigo o vai e vem das ondas. Quem sabe se em um dos vens não acho uma conchinha recheada com uma palavrinha deliciosa, pra depois soprar de mim o meu poetizar, e deixar, sozinha, flutuar em um dos vais?