sexta-feira, março 16, 2007

estudo n°1 sobre a natureza de uma mulher

Coisas das quais já havia se apropriado. Coisas inerentes à sua imagem, coisas que ninguém mudaria, coisas que a faziam ser quem era. O que a tornava interessante a fazia parecer desesperada. A mesa do almoço não era interessante sem aquela velha disputa por argumentos bem formulados. Cada pedaço de um polenta bem cozida era entremeado por opiniões sem molho.
As discussões se mostravam desafios maiores do que havia imaginado, e os seus argumentos, suas opiniões, suas convicções estavam começando a desaparecer. Aí ela usava um velho artifício, que aprendeu sozinha, mas que provavelmente está relacionado com alguma lei da evolução ou com a própria natureza do ser humano. Algo que provavelmente já existia quando os mais velhos artifícios foram criados.
Quando as reflexões de filosofia barata e os discursos sobre ética e moral não funcionavam mais, ela começava a mastigar uma qualquer coisa inexistente no canto da boca, já que isso lhe proporcionava um ar de superioridade inquestionável. Funcionava, até o truque ser descoberto. Ainda assim, ela continuava mastigando, na esperança de enganar a si mesma - pelo menos - . Isso quando a tal atitude embutida em sua personalidade competitiva não fazia rima com outros sinais igualmente irritantes. O leve erguer de uma sobrancelha, um olho mal-piscado e a expiração leve e descomprometida, como se o ar que passava por suas narinas dissesse "esse é o ar mais inteligente que você já conheceu".
Se o que quer que falasse não estivesse encharcado de razão, usava da velha mastigada para que assim parecesse. São os pequenos faz-de-conta que todos possuem. O simples fato de não acreditar em uma palavra que dizia lançava estímulos involuntários aos músculos da mastigação. E lá ia ela, mastigando.

Por Lis 4:27 PM
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