quinta-feira, julho 27, 2006
domingo, julho 16, 2006
quinta-feira, julho 06, 2006
Escrevo feito o vai e vem das ondas do mar, que não encontra começo, e vê fim em si mesmo. Tenho em mim o desdom de começar, uma capacidade imensa de esvaziar, e só.
O vazio anda lado a lado comigo.
Deixo minha poesia escorrer ao vento, diluir-se por nuvens tão frias e ilusórias que até minha poesia deixa de existir. Uma vez fora de mim, nunca mais minha. Minha poesia é do horizonte: Quando o crepúsculo está de um lado, ela está lá no outro - distante e fujona -, pra onde ninguém olha ao deliciar-se com o pôr-do-sol.
Enquanto isso levo o vazio, que se arrasta rasgando minha saia.
- Me dá tua mão.
Enquanto isso, o vazio chora.
Se quiser me chamar de poetisa, faça-o junto com minhas poesias, na calada da noite, longe de mim. O feminino de muitas coisas não me atrai - assim como certos sons secos -, nasci mulher pra aprender que sou poeta, e é assim que as coisas são, não insista!
E é tudo tão pálido por aqui... Como se a areia tivesse ido embora fazer as unhas dos pés, e o mar tivesse alisado os cabelos, e todas as pedrinhas que machucam os pés tivessem lixado suas pontas duras.
Apenas sigo o vai e vem das ondas. Quem sabe se em um dos vens não acho uma conchinha recheada com uma palavrinha deliciosa, pra depois soprar de mim o meu poetizar, e deixar, sozinha, flutuar em um dos vais?
terça-feira, julho 04, 2006
Uma manhã fria. Um céu cinzento. Céu que parecia refletir a cidade a seus pés, com seus cumes quadrados. Cidade que parecia refletir o céu a tocar-lhe os dedos finos e compridos, a abarcar antenas e ondas, conversas em celulares, programas de tevê, e narradores esforçados. Pessoas nas ruas que não sorriam. Andares preocupados que cobriam as calçadas. Olhares vidrados que seguiam, em meio à frieza matutina, apenas os outros olhares, a vigiá-las.
Entre passos apressados e murmúrios de quem não dorme o suficiente, escuta-se a sinfonia urbana, com carros, clarinetes, construções e Chico Buarque ao fundo. Típica mistura de manhã de quarta-feira numa cidade medrosa de que o dia acabe.
Nos rostos, sorrindo, franzinos, cansados, falando animadamente o mais novo trabalho, estava estampada a mesma preocupação daqueles que sobrevivem. Sinais, confusão no trânsito, um turbilhão de pessoas e uma agitação derradeira de meio de semana.
Entrando em um centro qualquer, uma porta de prédio se abre e revela um piso brilhante, quase molhado. As plantas também estavam cinza, e o sofá, marrom. A fumaça e o cheiro de cigarro que irritavam o porteiro ficam dançando os segundos que passam. Um elevador estéril, com espelho no teto, daqueles que não têm música, duas pessoas, três, quatro, cinco, doze andares. Três portas à esquerda e se chega naquilo que se chama casa. Uma casa suspensa nos ares. A porta é simpática, clarinha, entalhada, de fechadura dourada e simples. Não. Não existia tapete de boas vindas.