quinta-feira, julho 27, 2006

Sobram olhos?

Acho que não vou entender nada. Visão embaçada de tanto chorar e etc.
Mas vou no show do Chico, e é isso que importa.
Oh, céus, ó vida....
A-do-ro!

Por Lis 2:47 PM
_______________________________________________________
1 mimimi

domingo, julho 16, 2006

Em listra e xadrez

Cheguei em casa morta, desesperadamente morta.
Sobraram-me forças para chegar à cama, e o resto
- ínfimo -
de qualquer esforço
se concentrou em tirar minhas calças
e meu sutiã.

Tecnicamente,
dormi de camisa verde-musgo,
e calcinha cor de rosa
(de bolinhas pretas)

Não combino nem dormindo.
Tampouco o mundo combina comigo.

Acho que minha pele combina com a tua,
um pouco menos que minha cama
combinando tanto com meu cansaço.

Por Lis 6:51 PM
_______________________________________________________
2 mimimi

quinta-feira, julho 06, 2006

E eu

Escrevo feito o vai e vem das ondas do mar, que não encontra começo, e vê fim em si mesmo. Tenho em mim o desdom de começar, uma capacidade imensa de esvaziar, e só.

O vazio anda lado a lado comigo.

Acho que apenas balanço entre as palavras, oscilando feito água-viva, ao léu dos lábios escritos, e sem leme algum para lingüística.

Deixo minha poesia escorrer ao vento, diluir-se por nuvens tão frias e ilusórias que até minha poesia deixa de existir. Uma vez fora de mim, nunca mais minha. Minha poesia é do horizonte: Quando o crepúsculo está de um lado, ela está lá no outro - distante e fujona -, pra onde ninguém olha ao deliciar-se com o pôr-do-sol.

Enquanto isso levo o vazio, que se arrasta rasgando minha saia.

- Me dá tua mão.

Enquanto isso, o vazio chora.

Sou babá das coisas pequenas – aquelas que todos gostam tanto de falar sobre. Sou babá dos beijos roubados. Cuidei por muito tempo de algumas pestes, como sorrisos, que sempre escapam quando ninguém está olhando. Sou babá da caminhada na chuva, a irmã mais velha da caminhada sábado de manhã.

Se quiser me chamar de poetisa, faça-o junto com minhas poesias, na calada da noite, longe de mim. O feminino de muitas coisas não me atrai - assim como certos sons secos -, nasci mulher pra aprender que sou poeta, e é assim que as coisas são, não insista!

E é tudo tão pálido por aqui... Como se a areia tivesse ido embora fazer as unhas dos pés, e o mar tivesse alisado os cabelos, e todas as pedrinhas que machucam os pés tivessem lixado suas pontas duras.

Apenas sigo o vai e vem das ondas. Quem sabe se em um dos vens não acho uma conchinha recheada com uma palavrinha deliciosa, pra depois soprar de mim o meu poetizar, e deixar, sozinha, flutuar em um dos vais?

Por Lis 8:32 PM
_______________________________________________________
4 mimimi

terça-feira, julho 04, 2006

Um e único

Uma manhã fria. Um céu cinzento. Céu que parecia refletir a cidade a seus pés, com seus cumes quadrados. Cidade que parecia refletir o céu a tocar-lhe os dedos finos e compridos, a abarcar antenas e ondas, conversas em celulares, programas de tevê, e narradores esforçados. Pessoas nas ruas que não sorriam. Andares preocupados que cobriam as calçadas. Olhares vidrados que seguiam, em meio à frieza matutina, apenas os outros olhares, a vigiá-las.

Entre passos apressados e murmúrios de quem não dorme o suficiente, escuta-se a sinfonia urbana, com carros, clarinetes, construções e Chico Buarque ao fundo. Típica mistura de manhã de quarta-feira numa cidade medrosa de que o dia acabe.

Nos rostos, sorrindo, franzinos, cansados, falando animadamente o mais novo trabalho, estava estampada a mesma preocupação daqueles que sobrevivem. Sinais, confusão no trânsito, um turbilhão de pessoas e uma agitação derradeira de meio de semana.

Entrando
em um centro qualquer, uma porta de prédio se abre e revela um piso brilhante, quase molhado. As plantas também estavam cinza, e o sofá, marrom. A fumaça e o cheiro de cigarro que irritavam o porteiro ficam dançando os segundos que passam. Um elevador estéril, com espelho no teto, daqueles que não têm música, duas pessoas, três, quatro, cinco, doze andares. Três portas à esquerda e se chega naquilo que se chama casa. Uma casa suspensa nos ares. A porta é simpática, clarinha, entalhada, de fechadura dourada e simples. Não. Não existia tapete de boas vindas.

Por Lis 4:06 PM
_______________________________________________________
1 mimimi